No outro dia ouvi alguém assegurar que teria um esgotamento nervoso se outra pessoa, ao iniciar a discussão de um tema, fizesse remontar a descoberta aos gregos. Mas, de facto, lendo Lisistrata, percebemos que há poucas coisas que os gregos não conhecessem já. E não me refiro apenas a que o quadrado da hipotenusa é igual à soma do quadrado dos catetos. Na peça de Aristófanes as mulheres gregas, lideradas por Lisistrata, fazem um juramento colectivo de negarem sexo aos seus maridos até estes concordarem em terminar com a Guerra do Peloponeso. É este o texto integral do juramento:
I will not allow either lover or husband
to approach me in a state of erection.
And I will live at home in unsullied chastity
wearing my saffron gown and my sexiest make-up
to inflame my husband’s ardour.
But I will never willingly yield myself to him.
And should he rape me by force against my will
I will submit passively and will not thrust back
I will not raise my slippers towards the ceiling
I will not adopt the lioness-on-a-cheesegrater position.
If I abide by this oath, may I drink from this cup.
Os benefícios de uma educação clássica tornam-se evidentes quando se tenta perceber a posição lioness-on-a-cheesegrater. A peça está repleta de referências históricas e de trocadilhos de natureza sexual, sendo por vezes incerto se é mais adequada ao D. Maria II ou ao Parque Mayer. Fala da expedição ateniense à Sicília e de vibradores fabricados com pele de cão, do ouro da Acrópole e das duas maçãs de Helena de Tróia. É um texto sobre o poder das mulheres, sem ser necessariamente feminista. Um poder baseado no corpo – enorme, assimétrico e para o qual, felizmente, não existem tratados de desarmamento.