terça-feira, 19 de outubro de 2010

O período de duas ou três horas entre o regresso do trabalho e o deitar dos miúdos é um caos de brinquedos, cavalitas, duas crianças a pularem em cima do peito e dos abdominais, escondidas, gargalhadas, banhos e choros. Depois fica tudo silencioso, como agora. A L. e o D. na cama, agarrados aos seus bonecos, a marcar o início do período de duas ou três horas antes de eu próprio me ir deitar. É suposto concentrar nele todas as actividades que não consigo fazer durante o dia, como alimentar o apetite voraz do blogue, ler, ver televisão, adormecer a ver televisão, etc. Às vezes só dá, como hoje, para ouvir os CDs comprados no fim-de-semana numa loja independente de Brighton: The Fall, Interpol, The Psychedelic Furs, Yeah Yeah Yeahs. Uma banda sonora razoável para um fim de dia.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Nada reflecte melhor a mudança geracional que está a ocorrer na política britânica do que ouvir o Primeiro-Ministro conservador citar um sketch dos Monty Python num discurso perante militantes: Remember what they said about us? They called us a dead parrot. They said we had ceased to be. That we were an ex-party. Turns out we really were only resting.

Primeiro-Ministro (David Cameron): 44 anos
Líder da oposição (Ed Miliband): 41 anos
Ministro das Finanças (George Osborne): 39 anos

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Todos os momentos históricos têm os seus revisionismos. Nessa história alternativa, hoje seríamos uma monarquia nórdica, rica e igualitária, sem défice público ou corrupção, não tivesse sido a revolução do 5 de Outubro. Acredito profundamente que a implantação da República constituiu um passo importante num processo de modernização do país que ainda não terminou. A Primeira República não foi perfeita, como nenhum regime anterior ou posterior, mas a consolidação do princípio da igualdade perante a lei, a eliminação dos privilégios obtidos pelo nascimento e a separação entre a igreja e o Estado foram conquistas importantes, mesmo com os excessos e retrocessos que se seguiram. Por isso, Viva a República. Como estamos muito longe da Praça do Município e num país monárquico, comemorámos a revolução com uma visita à exposição de Paul Gauguin, na Tate Modern, nove ou dez salas repletas de quadros pintados na Bretanha, em Copenhaga, na Martinica ou no Tahiti. Vimos o Cristo Amarelo e mulheres polinésias semi-nuas, o mar revolto da Bretanha e praias do Pacífico.

domingo, 3 de outubro de 2010

Shakespeare never went to Venice, Homer never went to Troy, Dante never went to hell. Encontrei a citação numa edição atrasada de um suplemento literário. De facto, com alguma imaginação, conseguimos descrever lugares onde nunca estivémos, mas sobre os quais lemos relatos em livros ou vimos cenas em filmes. Em Veneza já estive, primeiro com Thomas Mann e depois com a J., que é muito melhor companhia. E apesar de nunca ter estado em Tróia consigo descrever, sem preocupações de rigor histórico, as muralhas diante das quais Aquiles arrastou o corpo de Heitor. Londres, esta noite, no início do Outono, é uma cidade de relvados húmidos e sapatos enlameados alinhados à porta dos apartamentos. O brilho da iluminação pública reflecte-se nos passeios molhados e, por ser domingo, famílias regressam a casa nos seus automóveis, de onde retiram crianças sonolentas. Para quem não está aqui, Londres terá de ser, hoje, apenas isto.