domingo, 26 de junho de 2011

Homem ao mar

O crescimento é marcado por uma passagem progressiva das actividades colectivas para as individuais. Quando éramos miúdos, não havia jogo que, por excesso de candidatos disponíveis, não tivesse de fazer uso dos princípios da exclusão ou do roda-bota-fora. É pouco provável que, na idade adulta, os amigos morem todos na mesma rua e seja necessário apenas gritar para os fazer abandonar o telejornal ou os banhos dos filhos para virem jogar à bola. Para se organizar um jogo de futebol ou de voleibol é preciso criar-se um algoritmo complexo para coordenar diferentes horários de trabalho, os aniversários de família de x, os amuos da namorada de y, etc. Em particular nas grandes cidades, restam poucas alternativas para quem quer fazer desporto, em geral o jogging ou a natação, actividades solitárias, monótonas, sem grandes regras. O objectivo deixa de ser ganhar (a alguém) mas perder (calorias). Como nunca gostei de correr sem uma meta ou uma baliza à minha frente, tenho ido nadar na hora do almoço. São duas ou três pistas de uma piscina onde alguns dos habitantes de Chelsea, protegidos pelo anonimato dos óculos e da touca, nadam desprovidos da personalidade que deixaram pendurada nos balneários. De modo contra intuitivo, tenho-me sentido bem nessa migração monótona e circular de meia hora de um lado para o outro da piscina, imerso no silêncio denso da água. Em todo o caso, preferiria o futebol, se tivesse escolha ou mais jeito.