quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Uma livraria no fim do mundo

É reconfortante saber que existe uma livraria no fim do mundo. Fui até lá hoje, na hora de almoço. A World’s End Bookshop fica numa das zonas menos movimentadas da King’s Road e é especializada em livros em segunda mão. Tem livros um pouco por todo o lado: os mais valiosos protegidos no interior de estantes de vidro, os mais baratos em caixas espalhadas pelo chão. Tem bastantes livros de poesia e de arte. Na primeira vez que inclinei a cabeça ligeiramente para a direita para ler as lombadas, descobri um livro sobre o grupo de artistas que habitou na zona em que vivo, no final do século XIX: The Holland Park Circle. Trouxe-o comigo debaixo do braço. Menos de cem metros a seguir existe uma loja especializada na venda de cartazes originais de filmes antigos: coloridos, enormes, perfeitos para as paredes da minha casa, caros. Deixei-os ficar a todos no fim do mundo. 
Nesta época de austeridade, aparentemente cortaram também uma estação do ano. Em Londres, passámos directamente da Primavera para o Outono. Até o mundo vegetal parece ter perdido as esperanças de que o sol brilhe com a intensidade desejada. Chove intensamente e no jardim das traseiras da nossa casa as folhas de uma das árvores avançam já rapidamente para o cor-de-laranja. A chuva ajudou a acalmar os tumultos nas ruas da cidade. Os fogos foram extintos e o sentimento de recolher obrigatório vai lentamente sendo abandonado. No Sábado vou para sul, por três semanas, à procura do Verão.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

No mês de Agosto os telefones não tocam, a caixa de entrada do correio electrónico vai recebendo mensagens de forma espaçada e sonolenta, não há passos apressados pelos corredores. As linhas-férreas e as auto-estradas levaram os habitantes das grandes cidades para lugares mais frescos junto às montanhas ou ao mar. Os poucos que ficaram a guardar a fortaleza entram num período de letargia ou dedicam-se a tarefas de arquivo, arrumação, catalogação. Em Londres já quase só os turistas andam pelas ruas e pelos parques. Há notícias de motins em algumas zonas da cidade, acontecimentos geralmente potenciados por um calor que este ano tarda em fazer-se sentir.

Fim-de-semana (2)


No Domingo à noite foi assistir ao concerto do Morrissey na Brixton Academy. A sala estava cheia de pessoas que obviamente o acompanham desde os anos 80, envergando t-shirts com o nome dele ou imagens retiradas dos álbuns dos The Smiths. Os que ainda têm cabelo suficiente para tal exibiam de forma discreta penteados semelhantes aos do cantor. Morrissey cantou músicas de várias fases da carreira e, nos intervalos, fez comentários depreciativos sobre diversos membros da Família Real. O público sabia de cor a letra de todas as canções e acompanhou-o de forma mais viva durante People are the same everywhere, Everyday is like Sunday e There’s a light that never goes out. Esta manhã, ao ler os jornais, apercebi-me de que, aparentemente, houve motins e pilhagens na rua por onde passei antes e depois do concerto. É uma daquelas situações em que quem está em casa a ver televisão sabe mais sobre os acontecimentos do que quem está no próprio local.

Fim-de-semana (1)

No Sábado fui até Twickenham assistir ao Inglaterra – País de Gales em Rugby. Apesar de ser um jogo amigável, o estádio estava completamente lotado. Para lá chegar tive de juntar-me aos milhares de pessoas que tentavam comprimir-se no interior das carruagens dos comboios que partiam do centro de Londres. Foi com alguma nostalgia que fiz o trajecto, recordando-me das inúmeras viagens que fiz em condições semelhantes na Linha de Sintra, nos anos 80 e 90. Em todo o lado, dois temas dominavam as conversas: (1) a quantidade de cerveja que já se tinha bebido e (2) a quantidade de cerveja que se planeava beber a seguir. O jogo, apesar de amigável, foi bastante animado. A Inglaterra venceu por 23 – 19.



sábado, 6 de agosto de 2011


Escócia, Julho de 2011.