sexta-feira, 13 de abril de 2012
The Robben Island Bible
No final dos anos 70, os prisioneiros políticos do ANC circularam entre si uma edição das obras completas de Shakespeare, disfarçada de livro religioso hindu. Cada prisioneiro sublinhou a sua parte favorita e assinou à margem. Nelson Mandela escolheu uma passagem de Julius Cesar, Walter Sisulu de The Merchant of Venice, Govan Mbeki de Twelfth Night. Trinta e duas pessoas assinaram o livro que se tornou conhecido como The Robben Island Bible. O acto subversivo de ler Shakespeare nas celas de uma prisão sul-africana passou felizmente impune. Num passeio por uma das ruas transversais de Portobello Road encontrei também eu uma edição antiga das obras completas. Paguei 3 libras pelas 1080 páginas encadernadas com capa dura. Afastei-me com a sensação de ter acabado de roubar um bem precioso. Hoje sublinhei a mesma frase de The Tempest que Billy Nair nos anos 70: This island’s mine, by Sycorax my mother.
terça-feira, 31 de janeiro de 2012
Uma grande-pouca vergonha
O filme mais recente de Steve McQueen prova que não há fome que não dê em fartura. Foi bom rever a Carey Mulligan, depois da agradável surpresa de An Education. Num dos diálogos finais desse filme, a adolescente Mulligan diz à diretora da sua escola: «I suppose you think I’m a ruined woman». A resposta é curta: «You’re not a woman.» Parece que entretanto cresceu.
quinta-feira, 26 de janeiro de 2012
Após dois anos e meio em Londres começou a acontecer-me um fenómeno psicológico provavelmente muito comum: em muitas situações, a voz com que penso fala em inglês. Como a minha pronúncia não é perfeita – nunca será, por muitas décadas que cá viva –, a minha consciência narra os seus dilemas quotidianos numa voz que fica a meio caminho entre o Jeremy Irons e o Manuel do Fawlty Towers. Umas vezes mais Manuel, outras mais reviver o passado em Brideshead. Em resumo, por vezes tenho dificuldade em compreender-me, o que não é nenhuma novidade.
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