Já o encontrei duas ou três vezes em corredores de estações de metro. Ouvi agora uma reportagem na rádio sobre a vida subterrânea deste cego que assobia. Numa actividade que vive das contribuições voluntárias de quem passa, a diferenciação do produto é um factor de competitividade. Tendo chegado tarde à vida de pedinte, sem saber cantar ou tocar qualquer instrumento musical, começou a desenvolver uma técnica pessoal de assobio, cujo resultado ecoa agora por corredores labirínticos e frios. Parece ter também assumido uma atitude quase antropológica, procurando construir narrativas de vida a partir das frases soltas de quem passa apressado ou lento por King's Cross ou Holborn. Anos de trabalho de campo permitiram-lhe, assim, ir adaptando um extenso repertório a cada local ou fase do dia. Clássicos do pop/rock britânico de manhã, quando os viajantes se encaminham apressados para os empregos, improvisações de jazz ao final da tarde. Na estação de St. Paul's, com a proximidade da catedral, é frequente assobiar hinos religiosos de compositores ingleses ou Bach. Por vezes, numa espécie de equivalência, nem o chego a ver. O som propaga-se simplesmente por corredores laterais, encruzilhadas, vãos de escadas rolantes sem que eu tenha tempo ou disposição para procurar a sua origem.
domingo, 3 de fevereiro de 2013
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