domingo, 23 de outubro de 2011

Os nossos fantasmas

Num daqueles acasos borgeanos, encontrei num alfarrabista um livro sobre o grupo de artistas que, na segunda metade do século XIX, viveu na nossa rua e em outras circundantes: The Holland Park Circle. Faziam parte da pouco representativa classe dos artistas com muito dinheiro e muitos deles construíram de raiz as suas casas onde antes se pastavam vacas. Descobrimos que, antes de ter sido alterado e dividido em dez apartamentos, o prédio em que habitamos foi mandado construir por W. Graham Robertson, um dos artistas do grupo. O livro traz até uma planta da casa original. No andar de baixo, onde hoje mora uma família de três pessoas, ficava a Sala de Bilhar. A nossa sala, que na configuração inicial se estendia até ao andar de cima, era o atelier onde Robertson pintava. Aparentemente, levava uma vida de dandy. Teve uma actividade social tão intensa que não terá tido tempo para dar um maior contributo para a história da arte. Um dos amigos, John Singer Sargent, pintou-lhe um retrato, agora na posse da Tate. Nele, mostra um ar pálido e imberbe. É sempre bom conhecermos os nossos fantasmas.


W. Graham Robertson, John Singer Sargent, 1894.

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