Os náufragos têm de reconstruir rotinas antigas num espaço que só aos poucos vão começando a conhecer. Desde que cheguei a Londres, o cinema foi um dos principais problemas. A nossa casa fica a cerca de cento e cinquenta metros de um, mas pertence a uma cadeia de salas onde apenas de vez em quando é projectado um filme menos comercial. Por outro lado, os britânicos descontam as horas de sol a menos que há a esta latitude nos horários dos espectáculos. As últimas sessões começam por volta das 20h30, demasiado cedo para quem tem de ajudar a pôr os miúdos a dormir antes de sair de casa. Aproveitando a visita de familiares, que me substituíram na tarefa, fui explorar um cinema de Notting Hill, o Coronet.
Os cinemas independentes são iguais em toda a parte: pequenos, escuros, com cadeiras gastas e decoração antiquada. Enfim, perfeitos. Neste, em vez de pipocas, o público levou para o interior da sala copos de plástico com cerveja e outras bebidas alcoólicas, o que se justifica perfeitamente durante retrospectivas de cinema francês, mas parece desadequado em outras situações. Fui ver A Serious Man dos irmãos Cohen. Gostei do filme e de tudo o resto. A meio, uma pessoa começou a ressonar de forma sonora e, mais tarde, um balão que se tinha mantido no tecto da sala começou a pairar em frente ao ecrã e a interagir com o argumento. No final, apanhei o autocarro 328 com destino a World’s End, mas saí algumas paragens antes e por isso não posso contar-vos como acaba.
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
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