sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Todos os dias apanho um double-decker bus vermelho para o trabalho. A viagem demora um quarto de hora, por uma das avenidas que limitam o parque (Kensington Gardens + Hyde Park). Um dos aspectos positivos de estar num país estrangeiro é poder, como hoje, pegar* n'Os Três Seios de Novélia, de Manuel da Silva Ramos – Prémio de Novelística Almeida Garrett, 1968, comprado por um euro numa feira do livro – sem receio de ter de aguentar os sorrisos de outros passageiros. De um lado do autocarro tenho uma fila quase ininterrupta de edifícios, do outro o parque, com pessoas a fazerem jogging matinal entre folhas secas de carvalho ou de fato, a caminho do trabalho. Em frente, a tapar a estrada que se estende até Hyde Park Corner, tenho este parágrafo:

E começo-te a contar uma história verdadeira que fala dum homem que entrou numa biblioteca para ler um livro banal e só de lá saiu cinco anos mais tarde depois de ter lido todos os livros. A sua cama era um rectângulo de 1,85 por 1,25 formado pelos seguintes livros: Werther de Goethe, o manuscrito original em papel de bíblia das Confissões de Rousseau, um ensaio de um filósofo persa sobre as trovoadas, uma tradução chinesa dos Lusíadas, um livro de culinária duma cortesã romana sobre as mil e uma maneiras de preparar arroz, Madame Bovary (dormia com ela todas as noites) de Flaubert e Uns Subsídios para uma Monografia sobre o Cair da Chuva, de um célebre navegador espanhol do século XVI, serviam-lhe de cabeceira. Comia na própria biblioteca e aí fazia as necessidades por detrás duma prateleira onde estavam guardados os clássicos franceses.

* Num sentido metafórico, por falta de mais uma mão.

1 comentário:

larosita disse...

lol! Pelo menos safaram-se Flaubert e Rousseau!!