segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Nada consegue descrever melhor o carácter conservador britânico do que a longevidade das soap operas. The Archers, uma radionovela passada na vila rural imaginária de Ambridge, está no ar desde 1950. Já tem mais de 16 mil episódios e alguns clubes de fãs espalhados pelo país. Parece que existem mesmo referências a episódios da série na correspondência pessoal de Philip Larkin, recentemente publicada em livro. Na televisão, Coronation Street está a fazer cinquenta anos e Eastenders vinte e cinco. É como se a Vila Faia nunca tivesse terminado e o João Godunha continuasse a chorar eternamente a morte da Mariette. Caso queiram saber o que andam a perder, transcrevo a sinopse do episódio de hoje de The Archers:

Kenton is trying to catch up with his last minute Christmas cards when Pat turns up at Lower Loxley to deliver some yoghurts. Elizabeth is in a flap as she hasn’t yet received Lily’s main present: a mobile phone with internet, ordered through the web.

Elizabeth has set up a shot of Kenton as the highwayman surprising some children. It’s a great success and will be featured in the Echo. Next year she hopes to use it in their own publicity.

Tony brings over a replacement present for Helen, a beautiful mobile for the baby. Ian really likes it and encourages Tony to waits and give it her himself. Although Tony would love to, he just leaves it with Ian.

When Helen opens the gift, she thinks it’s pretty, but still feeling very hurt by Tony. She tells Ian that Pat must have put her dad up to it. Helen doesn’t ring Tony, and when Pat suggests Tony might phone his daughter he sadly suggests that he’d better leave her to ring him when she’s ready. But as time goes on, Tony realises that Helen isn’t going to phone him at all.

domingo, 19 de dezembro de 2010

To the castle and back

Ontem metemo-nos no carro com destino a Windsor. Percorremos as ruas da vila e fizemos construções de neve junto às muralhas do castelo, onde não chegámos a entrar. No regresso, num anoitecer prematuro, passámos por um carrossel iluminado no meio da neve e por um parque infantil soterrado na planície gelada. As crianças já dormiam no banco de trás quando, a trinta à hora, entrámos na auto-estrada rumo ao centro de Londres. Há notícias de voos cancelados e de quatro europeus do sul, residentes em Holland Park, alegremente perdidos no meio da neve.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Novo Concerto Estratégico

Os Arcade Fire entraram em palco como um grupo de saltimbancos que toma de assalto a praça central de uma vila medieval, com uma troca incessante de instrumentos entre os elementos da banda e alguns sinais exteriores de loucura. O O2 Arena estava totalmente cheio. É um espaço mais ou menos do tamanho da Pavilhão Atlântico, se percebem o que quero dizer. A Cimeira da Nato deve ter sido boa, aprovou-se um novo conceito estratégico, etc., mas não teve um encore de duas músicas com o público todo a cantar. No final do concerto seguímos a multidão até à estação de metro mais próxima com a primeira neve do ano a cair-nos em cima.

Falar de dois concertos num espaço de tempo reduzido pode transmitir a ideia enganadora de uma vida social intensa, quando se trata apenas de uma coincidência estatística no meio dos dias domésticos e ritualizados. Escurece cedo e está frio. Os inícios das noites são passados a tentar domesticar o D. e a servir de trampolim à L. Depois, com os dois já na cama, sinto-me cansado e satisfeito como no final de um dia de praia.

Nota sobre o aparente uso do plural majestático: Tanto quanto sei, não existe uma única gota de sangue aristocrático na minha família. Parte dos meus textos são escritos no plural porque incluem de modo implícito a J. Na maioria dos casos, é mesmo ela a principal instigadora das nossas saídas, sempre pronta a tentar-me com bilhetes para concertos e anotações coloridas na agenda cultural.