segunda-feira, 7 de junho de 2010

Charing Cross

Eu e o V. andámos perdidos pelos alfarrabistas de Charing Cross, entre estantes de livros raros e caves de livros em saldos, a onde se desce com uma sensação de perigo. Numa delas, por mero acaso, deparámo-nos com uma estante repleta de livros portugueses. Trouxe a Poesia Toda do Herberto Heder (Assírio & Alvim) e a Constituição da República Portuguesa de 1976 (INCM), cada um por uma libra, cada um com frases misteriosas como estas:

São tarefas fundamentais do Estado: c) Socializar os meios de produção e a riqueza, através de formas adequadas às características do presente período histórico, criar as condições que permitam promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo, especialmente das classes trabalhadoras, e abolir a exploração e a opressão do homem pelo homem.

ou

Gostaria de inclinar-me sobre o tumulto dos teus violinos. Coloca as mãos no meu inocente nascimento. Vê como dou flor, e durmo.

No regresso à luz do sol, falámos sobre como é esse o destino possível das nossas próprias bibliotecas, ainda em construção: vendidas a alfarrabistas pelos nossos descendentes, num período de dificuldades financeiras, e os volumes depois dispersos, um a um, pelas estantes de pessoas que nunca chegaremos a conhecer, mas que não se importam, tal como nós, de percorrer caves labirínticas de livros usados.

1 comentário:

Vìtor Matos disse...

Essa nossa conversa deixou-me angustiado. Lá que eles vendam as nossas bibliotecas até não me importo, se já cá não estiver. Só ficava triste se alguém encontrasse os meus livros a 1 libra na cave de um alfarrabista inglês. Se venderem, que a vendam bem!