domingo, 31 de janeiro de 2010

Literatura comparada

Uma amiga, sempre com ideias boas e generosas, pediu-nos livros para iniciar uma biblioteca para presos que, nas actuais funções, tem de visitar e confortar. Numa primeira passagem pelas minhas estantes apercebi-me de que não ia ser uma tarefa fácil. Escolher literatura para pessoas com todo o tempo do mundo para se reverem nas personagens das histórias que lêem é uma responsabilidade demasiado grande, mesmo a um continente de distância. Comecei por eliminar os mais óbvios, como Crime e Castigo (Dostoievski), Expiação (Ian McEwan), O que Faço Eu Aqui (Bruce Chatwin), A Eternidade Não é De Mais (François Cheng), Os Inimigos do Sistema (Brian Aldiss), O Assalto (Harry Mulisch), O Livro da Confissão (John Banville) ou Sem Destino (Imre Kertész). Pus de lado também os que, pela espessura e peso, pudessem servir de arma, tornando-me cúmplice involuntário de um crime: A Montanha Mágica (Thomas Mann), Ulisses (James Joyce), D. Quixote (Cervantes), Metamorfoses (Ovídio) ou O Jogo do Mundo (Julio Cortázar). Depois os que, pela gramagem leve das folhas, pudessem acabar, de forma inglória, em centenas de mortalhas, como a edição da Caminho das Obras de Carlos de Oliveira ou a Bíblia. Isto tudo, J., para te tentar explicar porque é que, com toda esta análise de risco, ainda não te chegou aí desse lado do Oceano um único volume.

1 comentário:

Mafalda disse...

Junto-me a essa explicação. Tenho tido grandes problemas de escolha para conseguir arranjar algo de adequado... mas parece-me que está para breve!