domingo, 14 de março de 2010

O Gonçalo M. Tavares criou um bairro imaginário, de habitantes com com nomes de escritores e hábitos estranhos. Eu começo aos poucos a descobrir o meu. A cerca de trezentos metros do Sr. Mill viveu durante alguns anos o Sr. Pound. Como não foram contemporâneos, é difícil imaginá-los a encontrarem-se num café local e conversarem sobre filosofia ou poesia. Provavelmente discordariam sobre a maioria das coisas. A casa onde habitou Ezra Pound fica numa reentrância da Kensington Church Walk, uma via estreita por onde se pode escapar do movimento da rua central do bairro. Andando um pouco, chegamos ao pátio de uma igreja de estilo gótico (St. Mary Abbots), com lápides e plátanos espalhados de forma desordenada. O ruído dos automóveis quase não se ouve e sentimos que poderíamos estar numa pequena vila do interior. A ruela estende-se depois com uma sucessão de lojas minúsculas de ar antigo. Foi enquanto aqui vivia que Pound se tornou numa das principais figuras do modernismo, que mais tarde transportou consigo para Paris e Rapallo. Foi talvez também aqui que escreveu este poema:

The Garden


Like a skein of loose silk blown against a wall,
She walks by the railing of a path in Kensington Gardens,
And she is dying piece-meal
To a sort of emotional anæmia.

And round about there is a rabble
Of the filthy, sturdy, unkillable infants of the very poor.
They shall inherit the earth.

In her is the end of breeding.
Her boredom is exquisite and excessive.
She would like some one to speak to her,
And is almost afraid that I
Will commit that indiscretion.

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