terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Em certas situações, a sociedade funciona por turnos. Como são mais os que, na passagem de ano, fazem o turno da noite, a manhã do dia seguinte é de uma gloriosa calma pós-apocalíptica, sem ruído ou pessoas nas ruas. Aos poucos, os sobreviventes começam a sair de casa para aproveitar as potencialidades de uma cidade menos habitada - ressentidos também com os que acabam de deitar-se. Nós, cinco sobreviventes, percorremos as ruas junto ao rio até à Tate Britain, sem qualquer trânsito, para ver a exposição dos Pré-Rafaelitas. Em seis ou sete salas vimos as pinturas mais representativas do movimento artístico inglês, com uma das crianças no carrinho, outra ao colo e a terceira pela mão a fazer perguntas sobre as cenas representadas nos quadros. É difícil dizer a uma criança, por exemplo, que a Ophelia de John Everett Millais não está a nadar de costas num rio, totalmente vestida, mas que se afogou; ou que o Chatterton de Henri Wallis está a dormir um sono menos que eterno. Regressámos a casa cedo, mas com o sol já a baixar por detrás das quatro torres da estação de Battersea.

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