Mary Wollstonecraft, uma das figuras mais importantes do movimento feminista, tentou suicidar-se duas vezes por causa de um homem. Da segunda vez, vestiu um dos seus vestidos de noite, andou durante algum tempo com ele à chuva, pelas ruas de Londres, para o tornar mais pesado, e depois atirou-se às águas do Tamisa. Felizmente, um barqueiro conseguiu salvá-la e ainda viveu mais alguns anos, creio que felizes.
De um ponto de vista técnico, o Tamisa é perfeito para tentativas de suicídio: tem muitas pontes, com muros baixos, águas escuras e uma cidade que, quando chove, é ligeiramente deprimente. (Deve ser raro alguém tentar suicidar-se no Tejo, que é demasiado largo, ou no Sena, que é demasiado bonito.) Por outro lado, o Tamisa teve barqueiros, durante séculos, e agora tem provavelmente uma polícia fluvial, com lanchas rápidas e polícias com coletes-de-salvação montados em potentes motas de água. Quem se atira – não que eu esteja a pensar fazê-lo, mesmo que chova três meses sem parar – sabe que tem boas probabilidades de sobrevivência e, de uma forma geral, preferirá não molhar o fato ou o vestido, que tanto trabalho dão a secar neste país. É, no fundo, o Eros e Thanatos de Freud aplicado ao Tamisa, com homens e mulheres à chuva, num equilíbrio precário entre as forças do amor e da extinção.
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
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